quinta-feira, 14 de julho de 2011

sem título

Naquela noite fui acordada pela amargura do teu choro compulsivo.
- "Vem cá". Puxei-te para a cama, aconcheguei o teu corpo minúsculo nos meus braços cansados e, derrotada pela fadiga, deixei cair a minha cabeça no teu ombro.

- "Meu amor"... ouvi, ao de leve, na penunbra do meu sonho.
-"Meu amor, que faço eu sem ti?", Abri os olhos. Choravas. Aproximaste-te de mim e deixaste, sofregamente, que o sal dos teus lábios se entranhasse nos meus.
Tentei, em vão, afastar-te, mas as tuas unhas cravaram-se, com firmeza, nas minhas costas:
- "Não digas nada! Pensei que era possível viver sem ti mas...mas eu não consigo!". As palavras morriam-te com a força dos beijos que, impetuosamente, rasgavam os meus lábios.

Não falei. Embriagada, porém, com o cheiro a lavanda e saudade, despi-te e fiz do teu corpo o meu refúgio. E ali, por entre juras de amor e o frio das quatro paredes que nos cercavam, amei-te.  Amei-te como nunca o fizera antes.
Depois, olhamo-nos por longos minutos. Enquanto afagava os teus cabelos molhados e te cantava uma canção de embalar, os teus olhos brilhavam e sorrias. E esse sorriso permaneceu, imóvel, no teu rosto quando, por fim, adormeceste.

Nunca o saberás mas, depois disso, fiquei a contemplar-te durante horas. Naquele momento, com os teus cabelos desordeiros envoltos nas tuas mãos serenas, eras a criatura mais bela que já vira. E chorei. De comoção e de orgulho. Chorei porque, pela primeira vez, deixara de me pertencer e te entregara os meus medos e sonhos:
- "Eu amo-te", sussurrei. Esboçaste um sorriso e colocaste a tua cabeça no meu peito. Estavas ali, afinal.  Com a entrada dos primeiros feixes de luz matinal pela janela, senti o meu corpo e os meus olhos cada vez mais pesados...


Quando acordei, porém, gelada e estranhamente leve, vilsumbrei-o: um pequeno bilhete jazia na almofada que, momentos antes, te servia de repouso:

PERDOA-ME, NÃO SOU FORTE O SUFICIENTE. PERDOA-ME, lia-se em letra garrafal.



E aí, completamente petrificada, percebera: o que para mim seria um regresso, para ti fora, desde o ínicio, uma despedida.

                                                                                                                          


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