sexta-feira, 4 de março de 2011

Sentir

Oiço o motor dos carros lá fora, a agitação matinal, a azáfama rotineira de quem há muito se conformou com a vida. E na solidão deste quarto olho para mim, olho para a cama destruída pelo sexo e enojo-me. Há um vazio opressivo em mim. Os lençois estão manchados de falsos desejos, de sujeira humana. E eu sou apenas um corpo inerte. Deixo que me arranhem a pele, que me mordam o peito, que me esmaguem o corpo, que me prendam, que me penetrem, na tentativa de sentir algo. Finjo o orgasmo, viro-me e contemplo a minha insónia. E nesse momento maldito choro, choro por não sentir... choro pela frieza, pela descrença que me deixaste quando partiste. Bebeste a minha alma até à ultima gota, colocaste a minha inocência numa bandeja e deste de comer aos teus servos caprichos. Era esse o teu objectivo?



Vem a mim juventude pulsante! Devolve-me o brilho no olhar, devolve-me a alegria de viver, devolve-me as emoções! Vem com audácia, encosta os lábios ao meu peito e suga o calor do meu coração. Fá-lo bater...faz-me sentir.